domingo, 25 de setembro de 2011

Almoço com os bombeiros

Em 1989, antes do incêndio da nossa fábrica de colchões (uma hora conto essa história), trabalhava comigo uma moça muito engraçada e que como eu, gordinha. Eramos conscientes e felizes com nossa silhueta afofada, seu nome era (e ainda é, pois ela esta viva) Leila.
Leila era a faturista da empresa, numa época que maquina de escrever, fichas Kardex, papel carbono e calculadora de mesa faziam parte da rotina desse profissional. Ela tirava de letra seu serviço chato e pára amenizar, todos nós do escritório, sempre tínhamos tempo para conversas aleatórias e divertidas.
Leila tinha uma irmã que trabalhava como telefonista no corpo de bombeiros próximo a onde estávamos, sua irmã, como estava sempre com um telefone grudado na orelha, ligava para Leila, e muitas das vezes eu atendia e acabei travando uma amizade telefônica, ela tinha uma voz fina e toda delicada, parecia uma boneca falando ao telefone, eu sempre brincava com ela e acabávamos rindo.
Surgiu vários convites, da parte dela, para um dia almoçarmos la no corpo de bombeiros, Leila e eu. Sempre me esquivava, pois achava estranho ir almoçar em um lugar que não era um restaurante e nem a casa de alguém, mas Leila sempre dizia, que era legal pois almoçaríamos no refeitório de lá e que ninguém se daria conta da gente.
Tantas foram as insistências, que um dia no nosso horário de almoço,  Leila e eu fomos almoçar com sua irmã no refeitório do corpo de bombeiros. Chegando lá fui conhecer a irmã, nossa, Leila era gordinha, eu gordo e digamos assim, sua irmã estava a 5 estágios acima de nós! Vê-la em frente a uma mesinha de 50cm de largura por 50cm de profundidade operando um PABX e ela tinha o volume 3 vezes maior do que essa tal mesa, me fez pensar que eu e Leila eramos Olivias Palitos. Mas estávamos lá para almoçar e não para um concurso de peso. A irmã de Leila simpática como sempre, prontamente nos apresentou a sua chefia e disse que estávamos lá para filar a boia, seu chefe, nos olhou e disse que estávamos com sorte, pois hoje a cozinheira tinha feito muita comida e havia caprichado muito. Senti uma pontada de ironia, mas ja estávamos molhados na chuva, era tarde pra procurar guarda-chuva e lá fomos nós para o imenso refeitório do corpo de bombeiros. Chegando no imenso refeitório do corpo de bombeiros e puta merda, o imenso refeitório do corpo de bombeiros era uma cozinha que cabia 4 mesinhas somente, entrei ja achando que tinha sido minha pior opção da semana,ainda não havia ninguém almoçando eramos os primeiros a chegar. Leila e a irmã acostumadas com o ambiente, pegaram  uma retroescavadeira e encheram o prato de comida, eu com toda a vergonha do mundo, peguei o minimo possível, sentamos numa das mesinhas que cabiam 4 pessoas e começamos a comer. Cada vez que chegava uma turma de bombeiros olhava pra nossa mesa de gente gorda, fazia  alguma piada do tipo:
-"Nossa! será que sobrou comida pra gente?"
As duas riam falavam bobeiras e nem ai pra galera, foram lá repetiram 23 vezes. Eu, mal conseguia comer aquele pouco de comida, estava numa crise de vergonha gigante, ficava imaginando: "Caray que vê essa mesa com 300 kgs de gente, claro que vai achar que a gente vai comer até o alumínio das panelas!"
Nunca mais fui lá! só voltei a ver esses bombeiros em ação quando 1 ano depois a fábrica pegou fogo!

Minha cara de homem das cavernas e Leila, a faturista
de rango

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sem trem de aterrizagem, mas com muita jabuticaba


 'Ploquet Pluft Nhoque' (Jaboticaba)
[Ouça essa música, faz todo o sentido]

Em 1976 meus pais construíram a casa do sítio, então passamos a ir mais vezes, nessa mesma época, trocamos o caseiro e com essa troca, surgiu novos personagens, digamos, pitorescos no nosso cotidiano.
Um deles era um caseiro vizinho, chamado Adão, cujo qual, tenho quase certeza que, sua esposa chamava Eva, ou a gente chamava ela assim por não saber o nome da moça. Esse rapaz era praticamente um índio, sempre aparecia com umas iguarias estranhas para provarmos. Só cai na degustação na primeira vez, certo dia ele apareceu com um assado para provarmos e depois de todos terem comido ele nos disse que se tratava de um cachorro vinagre (este aqui). Nunca mais comi nada de origem animal que Adão trouxe, nem se Eva garantisse.
Um dia, Adão apareceu la no sitio e nos disse que tinha um sitio do outro lado da montanha que estava abarrotado de jabuticabas, eu e meu primo Roberto (vorazes tiranossauros) nem pensamos duas vezes, topamos ir. Adão mandou pegarmos uma saca vazia, isso mesmo uma saca, daquelas de milho pra ração animal, algo bem exagerado! Achamos isso o máximo, la fomos nós. 
Do outro lado da montanha significa: subir uma montanha SUBIR UMA MONTANHA, para 2 adolescentes gordinhos, nadadores, mas convenhamos, pouco dados a maratonistas, era um exercício do caramba, tinha que ter muita jabuticaba mesmo! Perguntei para o Adão qual é a distância, ele disse que era mais ou menos 10 kms, 5 de subida e 5 de descida. Eu olhei para o Roberto ja pensando em voltar mas ja tínhamos andado um bom pedaço e afinal ja feito boa parte da subida que era a pior parte. ( Idiotice da gente, pois na volta a descida vira subida e vice versa). Continuamos firmes e fortes e vermelhos. chegamos no topo da montanha, a visão é bonita, apesar das arvores não deixar ver muito alem nossa frente.
O besta aqui que vos escreve, ao ver a descida, resolve correr, pois depois de tanta subida, ver uma estrada de terra em descida, sai em disparada correndo. Só deu tempo para ouvir Adão gritar, cuidado, tropecei e voei, voei mesmo, pelo angulo que estava deu a impressão que estava voando, devo ter feito isso por uns bons 5 ou 6 metros, o problema foi minha aterrizagem, eu não tinha e ainda não tenho, trem de pouso, me esborrachei no chão de terra e pedras, esfolando cotovelos e joelhos e tudo mais que um avião sem rodas pode esfolar. O Roberto e o Adão riram só um pouco, mas prefiriram me acudir, afinal estávamos no meio do nada, somento com uma saca vazia para encher de jabuticabas e que nesse momento eu estava querendo que fosse muito mais muito, muito, muito mesmo para valer todo esse sacrifício. 
Finalmente chegamos ao tal sítio da jabuticaba sem fim, eu todo detonado arranhado, esfolado, rasgado, mas estava lá, cumprindo minha meta das jabuticabas.
O caseiro desse tal sitio nos recebeu na porta todo gentil, devia ser irmão do Adão (não dei nome por motivos de falta de fatos históricos pra isso), ele nos mostrou o caminho para as jabuticabas e la fomos nós nos embrenhando na mata fechada.
Logo encontrei um pele de cobra ( depois de Adão e Eva eu queria o que?) pelo tamanho da pele que a cobra descartou na troca fiquei imaginando o tamanho dela e tratei de sair de perto disso, foi quando o Adão me apontou em cima da árvore onde encontrei a dona da pele, descansando. Decididamente se fosse maça que me oferecessem eu não iria aceitar, estava muito éden pra minha cabeça!
Chegamos finalmente a tal arvore da vida, digo, de jabuticaba infinitas. Realmente, Adão tinha razão., eu nunca tinha visto uma jabuticabeira tão grande e tão carregada de jabuticabas gigantes.
O Roberto e o Adão subiram na arvore e me deixaram em baixo, pois com tantos ralados eu não conseguia subir. Eles pegavam as jabuticabas e eu em baixo selecionava, as grandes eu comia as menores eu colocava no saco. Agora mudou a cena, em vez do éden, estávamos no sitio do Pica-pau Amarelo Narizinho e Pedrinho na arvore e eu, Rabicó comendo as jabuticabas no chão!
Depois do saco cheio ( a saca, a pança e saco mesmo) resolvemos voltar. Depois de muitas horas chegamos no sitio todos cheios de orgulho com um saco cheio de jabuticaba. O Roberto queria mostrar pra mãe as jabuticabas gigantes que havia colhido, mas não soube explicar porque elas no pé pareciam maiores que ali no saco. Eu fiquei quieto fingindo dores, acima de qualquer suspeita!

Essa foto é de 74...
A foto da data esta com
minha mãe

Simulação do tombo feite pela alta tecnologia dos
computadores do "Era uma vez..."



domingo, 11 de setembro de 2011

Conversa de Lourdes e Mercedes

Lourdes- Hoje eu vou na festa de 80 anos de Valéria, vai ser num buffet!
Mercedes- Que legal! é a filha dela que esta pagando?
Lourdes- Não, ela não tem uma filha chamada Cida! só uma chamada Valdinira!
Mercedes- Cida? que Cida? Vai pagar a festa a Cida?
Lourdes- Tô falando que a Valeria não tem filha chamada Cida!
Mercedes- Quantas filhas tem a Valéria?
Lourdes, já brava- Você nem conhece direito a Valéria e esta dizendo que ela tem uma filha chamada Cida!
Mercedes- Eu? Você que disse que a Cida ia pagar a festa! eu nem sei quem é essa Cida!
Eu que estava tentando dormir, pois esse diálogo se passou as 6 da manhã, ouvi tudo e levantei pra tentar colocar a Cida, a Valéria e a Valdinira nos devidos lugares.
Expliquei para elas onde havia acontecido o erro, as duas não acreditaram muito, mas resolveram jogar carta.


Dona Mercedes e Dona Lourdes! minha tia e minha mãe!
Donas dos melhores dialogos da velhinha da praça é nossa

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Peripécias no clube

Em 1970 meu pai tornou se sócio de um clube de Campo "Clube Fiscal do Brasil" em Santa Isabel. Era (e é, descobri que ainda existe veja aqui) um clube muito legal, com muita mata e muitas piscinas.
Eu um pequenino garoto que pouco conhecia piscina ainda fiquei fascinado com toda aquele mundaréu de água e mato.
Minha família, tios, tios avós, avós, primos e toda a cambada íamos muito, fazíamos picnic, pois tinha áreas enormes para isso.
Pois bem da primeira vez que fui, não via a hora de entrar na piscina com escorregador, achava o máximo aquilo, via as crianças descendo daquilo com tanta alegria que claro que eu também tinha que fazer.  Tinha a piscina para as crianças pequenas que a água chegava no joelho, a piscina para crianças maiorzinhas que a água teria digamos um metro, era lá que estava o escorregador. Eu uma criança de 6 anos, um boto praticamente, um garoto que já havia frequentado todas as piscinas do planeta imaginação, achei que poderia descer de escorregador tranquilamente e descer de cabeça, claro, Eu era o máximo todo mundo descia sentado eu o garoto bambambã, sem falar nada pra ninguém (alias fazia isso demais, tomava a decisão e ia), subi no escorrega e fui de cabeça, como um míssil, como um paralelepípedo desgovernado, desci o escorregador e como um paralelepípedo desci ao fundo e não subia por nada. O Clube, fazendo jus ao nome, tinha um fiscal por perto e veio ao meu socorro ao ver que o garoto míssil paralelepípedo não chegava a tona. Claro, dona Lourdes que estava do outro lado da grade da piscina, estava aos gritos quando viu o fiscal com seu filho que jogava água pelas ventas e não veio afagar o filho, agradeceu o bom moço e quase que tira toda a  água dos meus pulmões no grito, tão meiga quando assustada, essa minha mãe!
Passou-se 2 semanas e o caso David/escorregador/piscina já tinha melhorado, e lá fomos nós de novo com toda a família fazer picnic e aproveitar o domingão. No carro o discurso de nada de entrar na piscina funda (1 metro) só na piscina rasinha  e tal. O tempo virou e nem precisou muitas recomendações pois nós crianças fomos proibidos de entrar na água, os adolescentes entraram, mas era bobagem a gente tentar argumentar, alias o que crianças tinham de argumento forte? Naquela época um não de adulto era lei e ponto, só que estamos falando de David, o garoto que só se ferra. Fui andar com os outros desbravar o clube, ja que molhar não podia, deparamos com um lugar que tinha um bambuzal e do lado tinha uns bezerrinhos separados da gente por uma cerca de arame farpado. Eu o moleque que já nasceu sabendo (por isso me ferrava) resolvi ir até onde estava os fofos bezerros, ao tentar pular a cerca de arame farpado escorreguei, cai, fui fisgado pela farpa do arame e fiquei pendurado bem no meio do tórax pelo arame, resultando num rasgo lindo digno de alguns pontos e um fim de domingo adiantado.
Voltei aparado pelos meus primos mais velhos e acabou a festa, levei mais umas broncas e fomos para São Paulo onde foram me consertar.
O Clube do Fiscal foi uma febre em casa por poucos anos, pois logo depois meu pai acabou comprando o sítio, alias, creio que o clube fomentou a ideia do sítio.

Essa é a foto da minha carteirinha do Clube

Essa foto é recente, mas a piscina deve ser a mesma
 e o escorregador esta no mesmo lugar que o antigo.
Não achei nenhuma foto antiga,
sei que existe na familia alguem que tem
mas por modernismo da época era tudo em slides.


Já até sei o que a Inaie irá dizer: Coitada da Dona Lourdes!