Leila era a faturista da empresa, numa época que maquina de escrever, fichas Kardex, papel carbono e calculadora de mesa faziam parte da rotina desse profissional. Ela tirava de letra seu serviço chato e pára amenizar, todos nós do escritório, sempre tínhamos tempo para conversas aleatórias e divertidas.
Leila tinha uma irmã que trabalhava como telefonista no corpo de bombeiros próximo a onde estávamos, sua irmã, como estava sempre com um telefone grudado na orelha, ligava para Leila, e muitas das vezes eu atendia e acabei travando uma amizade telefônica, ela tinha uma voz fina e toda delicada, parecia uma boneca falando ao telefone, eu sempre brincava com ela e acabávamos rindo.
Surgiu vários convites, da parte dela, para um dia almoçarmos la no corpo de bombeiros, Leila e eu. Sempre me esquivava, pois achava estranho ir almoçar em um lugar que não era um restaurante e nem a casa de alguém, mas Leila sempre dizia, que era legal pois almoçaríamos no refeitório de lá e que ninguém se daria conta da gente.
Tantas foram as insistências, que um dia no nosso horário de almoço, Leila e eu fomos almoçar com sua irmã no refeitório do corpo de bombeiros. Chegando lá fui conhecer a irmã, nossa, Leila era gordinha, eu gordo e digamos assim, sua irmã estava a 5 estágios acima de nós! Vê-la em frente a uma mesinha de 50cm de largura por 50cm de profundidade operando um PABX e ela tinha o volume 3 vezes maior do que essa tal mesa, me fez pensar que eu e Leila eramos Olivias Palitos. Mas estávamos lá para almoçar e não para um concurso de peso. A irmã de Leila simpática como sempre, prontamente nos apresentou a sua chefia e disse que estávamos lá para filar a boia, seu chefe, nos olhou e disse que estávamos com sorte, pois hoje a cozinheira tinha feito muita comida e havia caprichado muito. Senti uma pontada de ironia, mas ja estávamos molhados na chuva, era tarde pra procurar guarda-chuva e lá fomos nós para o imenso refeitório do corpo de bombeiros. Chegando no imenso refeitório do corpo de bombeiros e puta merda, o imenso refeitório do corpo de bombeiros era uma cozinha que cabia 4 mesinhas somente, entrei ja achando que tinha sido minha pior opção da semana,ainda não havia ninguém almoçando eramos os primeiros a chegar. Leila e a irmã acostumadas com o ambiente, pegaram uma retroescavadeira e encheram o prato de comida, eu com toda a vergonha do mundo, peguei o minimo possível, sentamos numa das mesinhas que cabiam 4 pessoas e começamos a comer. Cada vez que chegava uma turma de bombeiros olhava pra nossa mesa de gente gorda, fazia alguma piada do tipo:
-"Nossa! será que sobrou comida pra gente?"
As duas riam falavam bobeiras e nem ai pra galera, foram lá repetiram 23 vezes. Eu, mal conseguia comer aquele pouco de comida, estava numa crise de vergonha gigante, ficava imaginando: "Caray que vê essa mesa com 300 kgs de gente, claro que vai achar que a gente vai comer até o alumínio das panelas!"
Nunca mais fui lá! só voltei a ver esses bombeiros em ação quando 1 ano depois a fábrica pegou fogo!
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Minha cara de homem das cavernas e Leila, a faturista de rango |