Morávamos em São Paulo, mas passávamos quase todos os finais de semana no nosso sítio, eramos crianças e todas as paixões nos divertiam.
Na época do frio, isso logo no começo do sitio, a Tv era muito limitada a uma antena que mamente pegava um canal ou outro, agora vc imagina o que fazer com tantos pirralhos criativos dentro de uma casa.
Minha tia Carmen era a tia contadora de causos, há muito era limitada fisicamente por uma artrite reumatoide, que lhe tirou toda vivacidade física, mas que em hipótese nenhuma lhe tirou a sua mental e nem a de seu bom humor.
Quando anoitecia, minha tia juntava os fedelhos na varanda da casa, e todos com seus cobertores sentávamos no chão e ficávamos fascinados, ou melhor, horrorizados com as lendas urbanas que ela conseguia colocar dentro do universo de sua juventude. Sempre uns mais medrosos, outros nem tanto e outros como eu, espirrando muito, pois era (e sou) alérgico aqueles cobertores malditos.
Ela começa contando algo engraçado de alguma tia ou prima, que ia passear, em um tal parque Xangai (muito famoso na juventude delas) e fazia muito frio e quando menos esperávamos, ela já estava contando sobre uma tal moça linda que estava por lá com um vestido esvoaçante e que um rapaz se apaixonou por ela, dançaram a noite toda, depois ele foi leva-la para casa, ela era fria e ele preocupado, emprestou lhe o seu casaco, se despediram, ela lhe deu o endereço para que ele buscasse o casaco, quando foi ao endereço disseram que ela não morava mais lá, pois havia morrido fazia pouco tempo e assim por diante. Íamos ouvindo tão compenetrados que nem percebíamos a mudança de clima, quando dávamos conta, já estávamos todos em pânico.
Uma vez ela estava super empolgada contando um história, nem me lembro do que se tratava, mas nos concentrávamos muito em cada palavra que ela dizia, eis que minha tia viu uma estrela cadente e deu um berro apontando para o céu para que todos a vissem, a tá... quase que morremos enfartados com o susto, teve prima minha chorando tamanho foi susto e minha tia em uma crise de riso, pois a intensão era mostrar simplesmente a tal estrela.
Hoje minha tia Carmen, continua por aqui com seus 78anos, sua artrite reumatoide numa escala de 0 a 100, esta em 350, cheia de outros problemas de saúde, mas ela continua um bom humor e um riso no rosto que sempre me faz feliz em vê-la.
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Ela dá risada mesmo das suas limitações. [2009] |
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A gente se borrava, mas não perdia a chance de ouvir os contos da cripta by Carmen |
A historia teve ajuda da Solange, minha prima, que conseguiu lembrar de uma das histórinhas de terror e transcreveu a pra mim.