sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Uma noite na rodoviaria

Dia desses, por causa dos horários do show que fui e por conta dos horários dos ônibus interestaduais, acabei passando uma noite no Terminal Rodoviário Tiete.
A principio, não me preocupei muito, pois o terminal é gigantesco com vários comércios e muita gente, mas com o passar das horas, comecei a perceber que quase tudo fechara e que a maioria das pessoas se foram. Não era o que eu esperava, alias vou relatar exatamente isso.
Até a uma hora da manhã, eu não havia percebido nenhuma diferença entre as pessoas do local, mas após isso, como mágica, pessoas que não estavam lá de passagem ou que não estavam esperando seu ônibus, começaram a pipocar no meu campo visual.
Imediatamente me remeti ao livro "Lugar Nenhum" de Neil Gaiman  (livro que conta sobre o Universo dos habitantes dos subterrâneos de Londres), pois comecei a ver pessoas que provavelmente estavam o tempo todo por lá, mas que por algum mistério mágico, não as via e que agora que a incidência de passageiros era pequena, eles surgiram na minha frente.
Como são esses habitantes? claro que todos devem pensar que são mendigos ou maltrapilhos, mas engano de quem pensa isso! São pessoas que, como posso dizer, tem algo que diferencia do povo normal, mas que estão lá e que provavelmente vivam lá o dia todo e a noite toda. Estão limpos, trajam roupas limpas, porém velhas, carregam suas roupas em sacolas bem arrumadas em carrinhos de mala, cada um com uma característica interessante, que os tornam personagens do livro de Neil.
Eu estava sentado em uma cadeira (nada confortável, proposital para não se dormir), vejo uma senhorinha com seus 70 anos, limpa e bem arrumada, de calça jeans, blusa creme e um colar de pérolas com 2 voltas, abre sua bolsa e tira um estojo de maquiagens (aqueles estojos chineses que são grandes e tem espelho na tampa), abre o estojo e começa: - "Oi tudo bem? desculpa por demorar pra falar com você, mas hoje esta tudo muito corrido, estive ocupada resolvendo uns problemas....."
E por ai foi o monólogo dela com o espelho do estojo durante uma hora e meia. No fim despediu-se dizendo que amanhã conversava de novo.
Primeiro eu achei engraçado, mas depois me entristeceu de ver uma senhora, nessa altura da vida, vivendo assim e com ela havia mais outra senhorinha que estava arrumando suas bagagens.
Mais tarde vi essa mesma senhora conversando com 3 jovens que, também esperavam ônibus e dessa vez ela conversava com eles e contava coisas de sua juventude, coisas que fazia com suas irmãs, coisas engraçadas, que ela ria, mas não ria como uma louca, ria por lembrar com saudades, das peripécias da jovem que aprontava com as irmãs. Depois ela mencionou sobre filhos e outras coisas.
Poxa, filhos... como alguém pode abandonar sua mãe em uma rodoviária?
Um senhor muito magro com aspecto de judeu de terno preto e gravata estava na casa do pão de Queijo  comprando uma água e um pão de queijo e encrencando com a atendente, pois queria que ela abrisse o saquinho de papel com a espátula e não com a mão. Quando foi a minha vez de ser atendido, fiquei sabendo que ele também morava lá na rodoviária, e que todos os dias ele fazia isso e por la ficava e eu verifiquei que isso era fato, pois o homenzinho passou a noite toda com sua maletinha sentado em um das cadeiras não confortáveis.
Encontrei um senhor muito gordo que carregava uma bagagem enorme, algo como se fosse mudar de cidade, sua vida estava toda lá. Descobri pela sua conversa com seus "vizinhos", que no seus empregos não gostava de chegar atrasado e nem gostava de sair do lado de fora da empresa na hora do almoço e que hoje se irritava com esses vagabundos que não trabalham e querem que alguém fique dando esmolas.
Havia também um senhor com seus 55 anos, gay, bem afetado, mas sem esteriótipos de vestimentas, vestia-se como todos lá, sobriamente e limpo. Parecia ser o mais inteligente e o que mais prestava atenção na polução visível. Tanto que uma mulher veio com um 171 de passagem e foi pedir dinheiro para ele e ele com meia duzia de palavras mostrou toda a farsa do 171 colocando a para correr, essa praguejando coisas que ninguém entendia. Ele nem dando bola, mas encucado por querer saber por que no meio de tantas pessoas a malandra foi procurá-lo, ele estava achando que era algo mistico ou que ela estava paquerando o.
Desse jeito passei a noite observando varias e varias pessoas, cada um com sua história, cada um com seu jeito, mas com coisas em comuns, nenhum deles estava sujo, nenhum deles malocava e nenhum deles pedia esmolas.
Triste saber que muitas famílias renegam seus pais, avós e tios deixando os na solidão da vida, mas que de alguma forma, todos juntos formam um universo que eles vivem, ou melhor, sobrevivem.

Tente dormir num troço desses

O livro e seus personagens





quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Minha linda, minha musa, minha fada

Quando a vi pela primeira vez, foi no blog de alguém, mas caiu como um raio, algo que bateu em mim ficou e eu já sabia que seria definitivo, algo que já aconteceu comigo antes com outras cantoras (poucas).
Florence Welch ou para ser mais fácil a assimilação Florence and the Machine é a cantora que explodiu minha cabeça, me deixou apaixonado e comecei a ver mil vezes o Clip "Dog days are over" e não cansava  passei a procurar tudo que tinha.
Logo disse para o Clark: -Eu irei um dia no show da Florence, pode ter certeza!
Passou-se 2 anos, eu continuei a acompanhar Florence e conhecendo tudo que ela lançava e comprei os CDs originais,  pois tenho esse costume, o que eu gosto de verdade, tenho que ter o original.
Vários boatos de que Florence viria para um festival X ou Y infestaram a rede, até que a noticia verdadeira chegou. Florence viria para o Summer Soul Festival!
-Caraio! dia de semana, logo no meu segundo dia de serviço após minhas férias, o que fazer? 
Como diria o Clark: -Mell Kool! eu vou... e fui!


Gente to realizado ao extremo, esperava que ela seria muito fodástica, mas ela é o suprassumo de tudo que eu poderia imaginar... MARAVILHOSA, FANTÁSTICA!!! linda tudibom! Canta tão lindo, interage com o público e dança tão legal... dança que parece uma genuína fada céltica.Gritei, pulei, assoviei, berrei, dancei tudo que podia e não podia!
Claro! não posso esquecer que o dia seguinte eu tenho que lembrar que estou com quase 48 aninhos e todas minhas juntas lembram perfeitamente que eu fiquei 14 horas em pé, pulei por 4 horas, que eu não dormi, que eu fiquei uma noite funesta na Rodoviária Tiete com todos os personagens que vivem lá a noite (que renderá um futuro post) e que vim trabalhar SORRINDO satisfeito. 





Dando o serviço:
E como disse o Wans no comentário abaixo, faltou esta aqui:

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Acabou chorare, Yopa, Baú e memórias

Ferias de verão na praia era o o momento mais esperado, meu pelo menos. Tínhamos um apartamento em São Vicente,SP, na praia de José Menino, na verdade, tínhamos 1/4 de um apartamento, pois meu pai comprara o apartamento junto dos seus irmão, isso fazia com que usássemos pouquíssimas vezes o apartamento, na verdade usávamos uma vez por ano, primeiro porque todo mundo usava intensamente o local e segundo porque meu pai não era um amante de praia.Por isso era meu momento muito esperado.
Era o ano de 1974 seria a última vez que iramos usar esse apartamento, eu tinha quase 10 anos, fomos todos de casa, mais minha tia Clarice e meus primos, Zuleika, Sônia, Sandra e o Zé.
Nesse ano fatos interessantes marcavam o verão e marcaram minha memória, no final do ano de 73 os Novos Baianos lançaram o seu primeiro LP "Acabou Chorare" e isso fazia com que minhas primas cantassem o hit do momento o tempo todo: "Preta, Preta, Pretinha" é elas estavam pretas de sol mesmo! Sempre tinha a moçadinha que passava a cantada fajuta: - "Eu ia lhe chamar! Preta preta pretinha!". Outra coisa que me marcou, foi o surgimento do sorvete Yopa com seus picolés de dois palitos, que era algo nonsense, pois você tinha que ser um engenheiro chupador simétrico de sorvete para não perder a metade do sorvete no chão, coisa que acontecia com todo mundo. Outra coisa que marcou muito e que deu uma fama injusta, foi que uma tardezinha fomos passear na Ilha Porchat e vimos um pessoal em uma Perua Kombi do Baú da Felicidade e concluímos que fossem os vendedores dos tais carnês, todos estavam se divertindo na praia e nadando de roupas de baixo, tipo as mulheres de calcinha e sutiã e os homens de cuecas.
Minha mãe olhou aquilo e disse: Essas mulheres não prestam, essa gente que vende carnê do Baú não presta.!
Isso foi uma sentença de morte na minha cabeça e por muitos e muitos anos, toda vez que eu via algum vendedor ou vendedora do Baú olhava os com um asco como se eles fossem "pessoas de mal caráter". Acho que demorou mais de 15 anos para eu perceber que isso era ridículo e que não tinha nada a ver!

♪ Eu ia lhe chamar, enquanto corria a barca! lhe chamar.. enquanto corria a barca! ♫

Sandra, Sônia, minha mãe, Zuleika. Zé, na frente eu e no fundão o Bira

Brasil esquentai vossos pandeiros...


Queria ter achado uma foto melhor do sorvete de dois palitos


O carnê das "peladonas"

Por que foi o último ano que usamos o apartamento na praia? Meu pai comprou o sítio no mes de setembro de 1974, ai nosso foco foi para o mato e minhas aventuras estão contadas a rodo por aqui.

Acho que este post é mais um exercício de memória para mim e um ataque de saudosismo do que algo interessante de se ler.